Um blog de Rui Baptista

domingo, abril 25, 2004

Famagusta, a cidade fantasma


O centro de Famagusta, a segunda maior cidade da RTNC (30 mil habitantes), é dominado pela catedral de São Nicolau, hoje convertida em mesquita. Na praça da catedral há vários cafés com esplanadas onde cipriotas turcos e turistas com ar lânguido se abrigam do sol tórrido.
Os cipriotas turcos dizem que há 365 locais de culto em Famagusta, “um para cada dia do ano”. Algumas das mesquitas, tal como as centenárias muralhas otomanas que percorrem a cidade, ainda têm marcas de balas do tempo dos confrontos entre cipriotas gregos e turcos; na RTNC, as marcas de balas não são apagadas mas antes conservadas como monumentos aos onze anos de luta entre as duas comunidades de Chipre (entre 1963 e 1974).
Mas há em Famagusta um monumento ainda mais sinistro que as paredes crivadas de balas. Junto ao mar, uma longa faixa repleta de arranha céus abandonados estende-se a perder de vista. São várias dezenas de edifícios que, antes de 1974, eram hóteis de luxo. Em 1974, as autoridades cipriotas turcas vedaram essa zona; ninguém pode lá entrar senão o Exército, e os prédios ficaram ao abandono.
A paisagem parece Beirute. Muitos dos arranha-céus estão esventrados, em ruínas, seja por efeito dos bombardeamentos de 1974 ou de 30 anos de abandono. Mas outros continuam com um aspecto novinho em folha. Como o hotel de cinco estrelas Golden Sands, hoje abandonado mas outrora um dos mais conhecidos de Famagusta. Vê-se ao longe da esplanada de outro hotel de cinco estrelas, o Palm Beach, que fica mesmo à beira da linha de demarcação da “cidade fantasma” de Famagusta.
“Estão ali mais prédios que em todo o Burkina Faso!”, diz um jornalista sul-africano, estarrecido pela visão de vários quilómetros de arranha-céus abandonados. Porque é que os cipriotas turcos fecharam esta faixa de prédios junto ao mar?
A explicação mais lógica é que, em negociações com os cipriotas gregos, a zona proibida de Famagusta poderá ser uma das concessões territoriais da RTNC. Mas, mesmo que haja eventualmente um acordo entre os dois lados, a “cidade fantasma” nunca voltará à vida. Depois de 30 anos de abandono e decadência, o único destino do tétrico cenário só pode ser a demolição.
posted by Rui Baptista at 3:59:00 da manhã

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