Um blog de Rui Baptista
domingo, abril 25, 2004
Curiosidades do lado turco
Britânicos ao volante
Até 1960, Chipre era uma colónia britânica, e ainda há na RTNC alguns pequenos sinais disso. O principal tem a ver com a forma como os cipriotas turcos conduzem. Ao contrário dos seus primos turcos (que guiam como loucos, ainda pior que os portugueses), os cipriotas turcos não só conduzem pela esquerda como o fazem com total civismo: respeitam os limites de velocidade e não são mal educados para os peões nem para os outros condutores.
O “Burger City” e o cibercafé
Uma das consequências do isolamento político da RTNC é a ausência de muitas marcas ocidentais que hoje em dia fazem parte da paisagem urbana de qualquer parte do mundo. Não há um único McDonald’s na RTNC. Em compensação, há um restaurante do rival Burger King — mas disfarçado: para não furar o embargo económico, chama-se “Burger City”. O isolamento não é total, contudo: há inúmeros cibercafés nas principais cidades, cheios de jovens cipriotas turcos que, por uns acessíveis cem escudos por hora, podem ligar-se à Internet. E o que é que eles vão ver à rede? O mesmo que jovens como eles no resto do mundo: correio electrónico e “chat rooms”.
O Fenerbahce e as “Natashas”
Mais outra consequência do isolamento internacional da RTNC: nenhuma equipa de futebol cipriota turca pode participar em competições internacionais. Isso não impede que os cipriotas turcos sejam fanáticos da bola. Em Nicósia, o campeonato da Turquia é seguido de perto através da televisão turca e dos jornais desportivos de Istambul. O PÚBLICO testemunhou o empenho com que um grupo de cipriotas turcos seguiam pela TV um jogo de preparação entre o Fenerbahce (turco) e o Bayer Uerdingen (alemão). Mas, à parte o futebol, os casinos (vedados aos cipriotas turcos) e as praias, as diversões não são muitas na RTNC. Mesmo assim, há alguns “nightclubs”, normalmente de aspecto manhoso. Um deles, em Nicósia, é enorme: o “Imparator” ocupa três andares. O guia dos jornalistas estrangeiros contou que o “Imparator” é conhecido por ter muitas “Natashas” — o nome que em Chipre é dado às prostitutas vindas do Leste europeu.
Água e vinho
A grande maioria dos cipriotas turcos é muçulmana sunita. Mas, apesar de haver imensas mesquitas, a relação dos cipriotas turcos com a religião é muito descontraída. Não se vê ninguém ajoelhado a rezar no meio da rua, nem se ouvem as vozes dos “muezzin” a chamar para as orações. É certo que, à mesa, não se encontra carne de porco; mas as refeições são regadas a vinho, e os cafés têm todos anúncios a cervejas turcas. É claro que também há quem beba água — mas não da torneira. A escassez de água é um problema terrível em Chipre; na RTNC, há um racionamento draconiano (que não se aplica a hóteis ou outros pontos turísticos). Os cipriotas turcos só têm água corrente dois dias por semana. No resto do tempo, têm água armazenada em tanques. Os jornais publicam frequentemente conselhos sobre como poupar água, e lavar o carro ou regar a relva são actividades desaconselhadas.
Sto. André dos ortodoxos
Há entre 170 e 200 mil pessoas na RTNC. Uma ínfima parte da população (0,5 por cento) é composta por cipriotas gregos que não se mudaram para o outro lado da ilha em 1974. Vivem todos em Dipkarpaz, uma aldeia na ponta norte da RTNC; ainda mais a norte, no extremo da ilha, fica um mosteiro cristão ortodoxo, dedicado a Sto. André. O mosteiro está meio abandonado, mas o seu aspecto decadente irá ser renovado em breve com fundos da ONU; o mesmo acontecerá com uma antiga mesquita no lado grego da ilha. Numa pequena capela encontra-se um sacerdote ortodoxo e duas velhinhas todas vestidas de preto. Uma delas (que passava perfeitamente por portuguesa) vende velas para acender a Sto. André num claustro escuro e envelhecido. Estes cipriotas gregos, dos poucos que ficaram, têm liberdade para continuar a praticar a sua religião. Mas, à saída do mosteiro, há um posto de controlo onde são registados os nomes dos visitantes.
Até 1960, Chipre era uma colónia britânica, e ainda há na RTNC alguns pequenos sinais disso. O principal tem a ver com a forma como os cipriotas turcos conduzem. Ao contrário dos seus primos turcos (que guiam como loucos, ainda pior que os portugueses), os cipriotas turcos não só conduzem pela esquerda como o fazem com total civismo: respeitam os limites de velocidade e não são mal educados para os peões nem para os outros condutores.
O “Burger City” e o cibercafé
Uma das consequências do isolamento político da RTNC é a ausência de muitas marcas ocidentais que hoje em dia fazem parte da paisagem urbana de qualquer parte do mundo. Não há um único McDonald’s na RTNC. Em compensação, há um restaurante do rival Burger King — mas disfarçado: para não furar o embargo económico, chama-se “Burger City”. O isolamento não é total, contudo: há inúmeros cibercafés nas principais cidades, cheios de jovens cipriotas turcos que, por uns acessíveis cem escudos por hora, podem ligar-se à Internet. E o que é que eles vão ver à rede? O mesmo que jovens como eles no resto do mundo: correio electrónico e “chat rooms”.
O Fenerbahce e as “Natashas”
Mais outra consequência do isolamento internacional da RTNC: nenhuma equipa de futebol cipriota turca pode participar em competições internacionais. Isso não impede que os cipriotas turcos sejam fanáticos da bola. Em Nicósia, o campeonato da Turquia é seguido de perto através da televisão turca e dos jornais desportivos de Istambul. O PÚBLICO testemunhou o empenho com que um grupo de cipriotas turcos seguiam pela TV um jogo de preparação entre o Fenerbahce (turco) e o Bayer Uerdingen (alemão). Mas, à parte o futebol, os casinos (vedados aos cipriotas turcos) e as praias, as diversões não são muitas na RTNC. Mesmo assim, há alguns “nightclubs”, normalmente de aspecto manhoso. Um deles, em Nicósia, é enorme: o “Imparator” ocupa três andares. O guia dos jornalistas estrangeiros contou que o “Imparator” é conhecido por ter muitas “Natashas” — o nome que em Chipre é dado às prostitutas vindas do Leste europeu.
Água e vinho
A grande maioria dos cipriotas turcos é muçulmana sunita. Mas, apesar de haver imensas mesquitas, a relação dos cipriotas turcos com a religião é muito descontraída. Não se vê ninguém ajoelhado a rezar no meio da rua, nem se ouvem as vozes dos “muezzin” a chamar para as orações. É certo que, à mesa, não se encontra carne de porco; mas as refeições são regadas a vinho, e os cafés têm todos anúncios a cervejas turcas. É claro que também há quem beba água — mas não da torneira. A escassez de água é um problema terrível em Chipre; na RTNC, há um racionamento draconiano (que não se aplica a hóteis ou outros pontos turísticos). Os cipriotas turcos só têm água corrente dois dias por semana. No resto do tempo, têm água armazenada em tanques. Os jornais publicam frequentemente conselhos sobre como poupar água, e lavar o carro ou regar a relva são actividades desaconselhadas.
Sto. André dos ortodoxos
Há entre 170 e 200 mil pessoas na RTNC. Uma ínfima parte da população (0,5 por cento) é composta por cipriotas gregos que não se mudaram para o outro lado da ilha em 1974. Vivem todos em Dipkarpaz, uma aldeia na ponta norte da RTNC; ainda mais a norte, no extremo da ilha, fica um mosteiro cristão ortodoxo, dedicado a Sto. André. O mosteiro está meio abandonado, mas o seu aspecto decadente irá ser renovado em breve com fundos da ONU; o mesmo acontecerá com uma antiga mesquita no lado grego da ilha. Numa pequena capela encontra-se um sacerdote ortodoxo e duas velhinhas todas vestidas de preto. Uma delas (que passava perfeitamente por portuguesa) vende velas para acender a Sto. André num claustro escuro e envelhecido. Estes cipriotas gregos, dos poucos que ficaram, têm liberdade para continuar a praticar a sua religião. Mas, à saída do mosteiro, há um posto de controlo onde são registados os nomes dos visitantes.
posted by Rui Baptista at 4:11:00 da manhã
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home