Um blog de Rui Baptista

domingo, setembro 12, 2004

Paraíso caribenho


O arquipélago de San Blas, pátria do índios Kuna, é composto por 365 ilhas, uma por cada dia do ano. Fica situado na costa norte do Panamá, no mar das Caraíbas, e é um daqueles sítios a quem ninguém consegue ficar indiferente. A dificuldade nos acessos e a vigilância apertada dos índios Kuna, conseguiram o milagre de preservar este verdadeiro paraíso caribenho.
Chegar a Porvenir, a primeira ilha do arquipélago, não é complicado — basta apanhar um pequeno avião em Cidade do Panamá. O mais complicado é depois circular entre as ilhas, algumas separadas apenas escassas centenas de metros. Quem não falar espanhol ou arranhar o dialecto "kuna" corre o risco de ficar sitiado numa qualquer ilhota, sem conseguir arranjar uma "pirágua" (uma piroga escavada num tronco de árvore") que lhe permita mudar de poiso ou chegar ao continente. Já tem havido casos de pessoas que passaram dias em ilhotas desertas, à espera de uma "pirágua" que nunca mais chega...
O índios são muito reservados e não gostam particularmente de visitantes. Negociantes argutos, produzem e vendem cocos aos vizinhos colombianos. Um tratado assinado com o Governo do Panamá concedeu-lhes isenção de impostos, e obriga à revista de todos os visitantes que chegam ao continente provenientes do arquipélago. Os poucos hotéis que existem nas ilhas são muito rudimentares, não passando de cabanas construídas com canas e chão de areia. As casas de banho são colectivas, e só algumas ilhas têm energia eléctrica fornecida por um gerador ,que é ligado durante um par de horas ao caír da noite. A excepção é o Hotel San Blas, na ilhota de Nalunega, que por 35 dólares, oferece um "bungalow" dividido ao meio por tabiques muito finos. Quando alguém ressona no hotel, é certo e sabido que vai incomodar todos os hóspedes, com este escriba descobriu à sua custa...

Existe entre os Kunas um número extraordinário de albinos, que são considerados pelo resto da população como sendo seres superiores, mais inteligentes e bem preparados. Esta espécie de discriminação ao contrário faz com que os albinos ocupem um lugar de destaque na maior parte das ilhotas, quase sempre exercendo lugares de chefia ou controlando o comércio. As mulheres ocupam-se das tarefas da casa, e produzem as célebres "molas" (bordados com motivos marinhos) que são uma das fontes de receita da nação Kuna.
O mar das Caraíbas é de uma transparência cristalina, mas não é aconselhável nadar nas praias das ilhotas mais populosas, uma vez que os Kunas constroem as suas casas de banho no fim de pontões de madeira que entram algumas dezenas de metros pelo mar. O ideal é tomar uma "pirágua" para uma qualquer ilhota deserta (são a maioria) para aí fazer mergulho entre o corais, ou simplesmente nadar no meio de peixes coloridos. À noite, quando o gerador é desligado, o único barulho que chega até às cabanas de cana é o som eterno das ondas do mar.
posted by Rui Baptista at 2:33:00 da manhã

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