Um blog de Rui Baptista

domingo, abril 25, 2004

Comidinha do Chipre



Ao menos na gastronomia, o lado grego e o lado turco não divergem grandemente. A cozinha cipriota gaba-se de ter influências turcas, libanesas, gregas e mediterrânicas, e tem um sabor muito familiar ao paladar português. As refeições começam sempre pelos “meze”, uns 15 ou 20 pratinhos com entradas de saladas, polvo, molhos picantes ou pastéis de queijo . O cordeiro é o prato mais popular, em particular o “sis kebab”. Na RTNC depois da sobremesa, há o obrigatório café turco. Já no lado grego é inevitável acompanhar as refeições com o vinho da ilha, com odor a resina, e cuja suavidade é absolutamente enganadora.

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F.A.Q.

Moeda
A moeda da República do Chipre (RC) é a libra cipriota, que vale sensivelmente o dobro do euro.
Já a RTNC não tem moeda própria e usa a lira turca. A crise económica da Turquia provocou uma desvalorização maciça da lira, o que significa que um maço de cigarros custa 900 mil liras e uma viagem de táxi pode andar entre os 15 e os 20 milhões. O pior é que as notas de lira são todas parecidas: têm o mesmo formato e sempre a cara do “pai da nação”, Ataturk, para além de uma quantidade enorme de zeros. O turista estrangeiro corre o risco de confundir as notas de 100 mil liras (15 escudos) com as de dez milhões (1500).

Transportes

Circular no lado grego é relativamente fácil. Há muitas empresas de aluguer de automóveis, com tarifas a partir dos 30 euros, dependendo dos modelos. A RC tem uma eficiente frota de táxis (que passam recibos e têm taxímetros), em especial em Nicósia e existem carreiras de autocarros que cruzam a ilha em todas as direcções.
Com excepção dos autocarros dos hóteis de luxo, não há grandes alternativas de transportes públicos no lado turco: os autocarros municipais são poucos; comboios, não existem. Mas as distâncias na RTNC são curtas, e a rede de estradas é boa e moderna, pelo menos nas ligações entre cidades. Pode-se alugar um carro por preços razoáveis. Há bastantes táxis, que também não são caros, mas convém combinar o preço à partida — não há taxímetros nem recibos.


Telemóveis
Se estiver em Nicósia e quiser usar o telemóvel tenha cuidado. É que se fizer roaming com uma rede turca vai pagar muito mais do que se procurar um operador cipriota-grego. Aconselha-se que a busca de rede seja feita manualmente, pois junto à “linha verde” o sinal dos operadores turcos é muito forte.


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Alojamento

O que na não falta no lado grego da ilha são hotéis e estâncias turísticas, em especial em Limassol e noutras praias mediterrânicas, que são quase todas excelentes. É só uma questão de escolher o que mais convier. Recomendamos em Nicósia o Forum Hotel, a cinco minutos do centro da cidade, numa zona sossegada, com quartos a partir de 100 euros..
Apesar do isolamento, as principais cidades da RTNC (Nicósia, Girne, Guzelyurt, Famagusta) têm hóteis e pensões para todas as bolsas, desde as duas estrelas (diária de 20 euros) às cinco (diária de 130 euros).

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Chegar lá

Para viajar à parte norte do Chipre, é necessário passar pela Turquia. A única alternativa para os estrangeiros é comprar um salvo-conduto de um dia em Nicósia (no edifício conhecido como o Ledra Check Point) e depois atravessar para o lado turco, mas os cipriotas-gregos desencorajam estas tentativas e podem levantar problemas inesperados na hora do regresso. Atrvessar de sul para norte é que é completamente impossível, pois os turcos não o permitem.
Só a Turkish Airlines e a Turkish Cypriot Airlines é que voam para o aeroporto de Ercan. Muitas companhias internacionais fazem voos para os aeroportos de Ancara ou Istambul — mas não a TAP, o que significa que uma viagem à RTNC a partir de Portugal implica pelo menos duas escalas.
Já para a o Chipre grego (RC), as coisas são mais fáceis, pois existem muitas companhias que voam para Larnaca (Nicósia não tem aeroporto). A Alitalia tem tarifas interessantes para Larnaca, com escala num aeroporto italiano. Fazer de táxi os 60 quilómetros entre Larnaca e Nicósia custa cerca de 35 a 40 euros, mas existem autocarros, bem mais baratos. O ideal é pedir informações no aeroporto, onde existe também um balcão de reservas de hotéis.
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Disco sound e capacetes azuis

A vida nocturna do lado grego de Nicósia merece uma referência especial. Por força do turismo de massas, surgiram por todo o lado bares, discotecas e cabarets, que aqui são designados simplesmente como casinos. Salvo raras excepções, ficam situados na zona histórica de Nicósia, a dois passos da “linha verde” e têm um ambiente absolutamente decadente. O que vale é que, por força da lei, encerram obrigatoriamente as portas às duas da manhã.
Alguns são lugares simplesmente pavorosos. Ali ainda reina ainda o “disco sound” e as bolas de espelhos, e as bailarinas idas do leste da Europa (conhecidas simplesmente como “As Natachas”) são descidas do tecto para as pistas de dança dentro de gaiolas. Para encontrar gente com um ar mais normal e moderno é preciso ir até ao Sfinakia, um clube para gente mais nova, de admissão reservada, que fica no número 43 da rua Dervi.
A partir das duas da manhã, a rua pedonal que conduz à “linha verde” enche-se de mulheres que saem dos casinos situados nas redondezas. Quase todas oriundas da Ucrânia, Rússia e Hungria, concentram-se em meia dúzia de bares especializados em “fast food” que têm autorização para funcionar até mais tarde. O resto da cidade dorme, até porque Nicósia deita-se cedo e a partir das 22 horas os restaurantes fecham quase todos as portas, em especial os que ficam mais perto da “linha verde”.
Todavia, quem tiver curiosidade em saber mais coisas sobre a última capital dividida do mundo, pode sempre aproveitar estas horas tardias para percorrer a “linha verde”, parando junto às guaritas dos soldados cipriotas-gregos. A guerra entre as comunidades é também um conflito de Relações Públicas, e por isso os soldados do lado ocidental estão sempre disponíveis para uma conversa, seja a que hora for do dia ou da noite. Menos acessíveis são os capacetes azuis das Nações Unidas, que montaram os seus quartéis em terra de ninguém. São eles que têm que acalmar os ânimos sempre que há escaramuças, que são praticamente diárias.
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Curiosidades do lado turco

Britânicos ao volante

Até 1960, Chipre era uma colónia britânica, e ainda há na RTNC alguns pequenos sinais disso. O principal tem a ver com a forma como os cipriotas turcos conduzem. Ao contrário dos seus primos turcos (que guiam como loucos, ainda pior que os portugueses), os cipriotas turcos não só conduzem pela esquerda como o fazem com total civismo: respeitam os limites de velocidade e não são mal educados para os peões nem para os outros condutores.


O “Burger City” e o cibercafé

Uma das consequências do isolamento político da RTNC é a ausência de muitas marcas ocidentais que hoje em dia fazem parte da paisagem urbana de qualquer parte do mundo. Não há um único McDonald’s na RTNC. Em compensação, há um restaurante do rival Burger King — mas disfarçado: para não furar o embargo económico, chama-se “Burger City”. O isolamento não é total, contudo: há inúmeros cibercafés nas principais cidades, cheios de jovens cipriotas turcos que, por uns acessíveis cem escudos por hora, podem ligar-se à Internet. E o que é que eles vão ver à rede? O mesmo que jovens como eles no resto do mundo: correio electrónico e “chat rooms”.

O Fenerbahce e as “Natashas”

Mais outra consequência do isolamento internacional da RTNC: nenhuma equipa de futebol cipriota turca pode participar em competições internacionais. Isso não impede que os cipriotas turcos sejam fanáticos da bola. Em Nicósia, o campeonato da Turquia é seguido de perto através da televisão turca e dos jornais desportivos de Istambul. O PÚBLICO testemunhou o empenho com que um grupo de cipriotas turcos seguiam pela TV um jogo de preparação entre o Fenerbahce (turco) e o Bayer Uerdingen (alemão). Mas, à parte o futebol, os casinos (vedados aos cipriotas turcos) e as praias, as diversões não são muitas na RTNC. Mesmo assim, há alguns “nightclubs”, normalmente de aspecto manhoso. Um deles, em Nicósia, é enorme: o “Imparator” ocupa três andares. O guia dos jornalistas estrangeiros contou que o “Imparator” é conhecido por ter muitas “Natashas” — o nome que em Chipre é dado às prostitutas vindas do Leste europeu.

Água e vinho

A grande maioria dos cipriotas turcos é muçulmana sunita. Mas, apesar de haver imensas mesquitas, a relação dos cipriotas turcos com a religião é muito descontraída. Não se vê ninguém ajoelhado a rezar no meio da rua, nem se ouvem as vozes dos “muezzin” a chamar para as orações. É certo que, à mesa, não se encontra carne de porco; mas as refeições são regadas a vinho, e os cafés têm todos anúncios a cervejas turcas. É claro que também há quem beba água — mas não da torneira. A escassez de água é um problema terrível em Chipre; na RTNC, há um racionamento draconiano (que não se aplica a hóteis ou outros pontos turísticos). Os cipriotas turcos só têm água corrente dois dias por semana. No resto do tempo, têm água armazenada em tanques. Os jornais publicam frequentemente conselhos sobre como poupar água, e lavar o carro ou regar a relva são actividades desaconselhadas.

Sto. André dos ortodoxos

Há entre 170 e 200 mil pessoas na RTNC. Uma ínfima parte da população (0,5 por cento) é composta por cipriotas gregos que não se mudaram para o outro lado da ilha em 1974. Vivem todos em Dipkarpaz, uma aldeia na ponta norte da RTNC; ainda mais a norte, no extremo da ilha, fica um mosteiro cristão ortodoxo, dedicado a Sto. André. O mosteiro está meio abandonado, mas o seu aspecto decadente irá ser renovado em breve com fundos da ONU; o mesmo acontecerá com uma antiga mesquita no lado grego da ilha. Numa pequena capela encontra-se um sacerdote ortodoxo e duas velhinhas todas vestidas de preto. Uma delas (que passava perfeitamente por portuguesa) vende velas para acender a Sto. André num claustro escuro e envelhecido. Estes cipriotas gregos, dos poucos que ficaram, têm liberdade para continuar a praticar a sua religião. Mas, à saída do mosteiro, há um posto de controlo onde são registados os nomes dos visitantes.


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Famagusta, a cidade fantasma


O centro de Famagusta, a segunda maior cidade da RTNC (30 mil habitantes), é dominado pela catedral de São Nicolau, hoje convertida em mesquita. Na praça da catedral há vários cafés com esplanadas onde cipriotas turcos e turistas com ar lânguido se abrigam do sol tórrido.
Os cipriotas turcos dizem que há 365 locais de culto em Famagusta, “um para cada dia do ano”. Algumas das mesquitas, tal como as centenárias muralhas otomanas que percorrem a cidade, ainda têm marcas de balas do tempo dos confrontos entre cipriotas gregos e turcos; na RTNC, as marcas de balas não são apagadas mas antes conservadas como monumentos aos onze anos de luta entre as duas comunidades de Chipre (entre 1963 e 1974).
Mas há em Famagusta um monumento ainda mais sinistro que as paredes crivadas de balas. Junto ao mar, uma longa faixa repleta de arranha céus abandonados estende-se a perder de vista. São várias dezenas de edifícios que, antes de 1974, eram hóteis de luxo. Em 1974, as autoridades cipriotas turcas vedaram essa zona; ninguém pode lá entrar senão o Exército, e os prédios ficaram ao abandono.
A paisagem parece Beirute. Muitos dos arranha-céus estão esventrados, em ruínas, seja por efeito dos bombardeamentos de 1974 ou de 30 anos de abandono. Mas outros continuam com um aspecto novinho em folha. Como o hotel de cinco estrelas Golden Sands, hoje abandonado mas outrora um dos mais conhecidos de Famagusta. Vê-se ao longe da esplanada de outro hotel de cinco estrelas, o Palm Beach, que fica mesmo à beira da linha de demarcação da “cidade fantasma” de Famagusta.
“Estão ali mais prédios que em todo o Burkina Faso!”, diz um jornalista sul-africano, estarrecido pela visão de vários quilómetros de arranha-céus abandonados. Porque é que os cipriotas turcos fecharam esta faixa de prédios junto ao mar?
A explicação mais lógica é que, em negociações com os cipriotas gregos, a zona proibida de Famagusta poderá ser uma das concessões territoriais da RTNC. Mas, mesmo que haja eventualmente um acordo entre os dois lados, a “cidade fantasma” nunca voltará à vida. Depois de 30 anos de abandono e decadência, o único destino do tétrico cenário só pode ser a demolição.
posted by Rui Baptista at 3:59:00 da manhã 0 comments

Praias desertas no lado turco

Viajando pela RTNC, é impossível evitar as bases militares do Exército turco: por todo o lado há áreas enormes cercadas por arame farpado com severos avisos a proibir a entrada a civis. Há jornais e televisões locais, mas os cipriotas turcos preferem os diários e os canais televisivos turcos (a Turquia fica a pouco mais de 100 quilómetros, para receber a TV turca não é sequer preciso satélite).
A Turquia é a única via que a RTNC tem para escapar ao isolamento. A autoproclamada república é ostracizada por toda a comunidade internacional menos por Ancara, e a solidão dos cipriotas turcos nota-se constantemente. A ilha tem óptimas condições para o turismo, como o sucesso do lado cipriota grego em atrair visitantes demonstra. Mas o estatuto de pária do lado cipriota turco torna o turismo difícil.
O interior da ilha é bom para percursos de “trekking”, embora seja aconselhável levar muita água para beber. A paisagem é desoladoramente seca (como o Alentejo, mas muito mais árida) e vazia — para além de uma ou outra base militar turca, ninguém ocupa o centro da ilha excepto os burros selvagens, uma curiosa e pacífica espécie típica da ilha.
Não há números certos sobre a quantidade de turistas que visita a RTNC. Sabe-se que a maioria vem da Turquia, e os restantes do Reino Unido, da Alemanha ou de Israel. Muitos deles vêm para jogar nos casinos — há 16 na RTNC, normalmente junto aos hóteis. Tanto casino pode parecer muito para tão pouca gente, mas atenção, “casino” na RTNC significa apenas uma pequena sala com umas duas dúzias de “slot machines” e um par de mesas de “blackjack” e roleta.
Os que não vêm jogar têm o sol e as praias. Chipre é muito, muito quente (as temperaturas no Verão ultrapassam os 40 graus à sombra); entre Maio e Outubro, as águas do Mediterrâneo têm uma temperatura média de 24 graus. As cidades costeiras de Famagusta e Girne têm boas praias, mas as melhores ficam na península de Karpaz (ponta norte da ilha), longos areais com uma água limpa e muito azul. A melhor parte das praias cipriotas turcas tem a ver com o isolamento da RTNC: estão quase totalmente desertas.

posted by Rui Baptista at 3:53:00 da manhã 0 comments

Uma esplanada com vista para o lado grego



Uma das imagens mais impressionantes no lado grego da cidade é a esplanada que os turcos construiram em cima da muralha antiga de Nicósia, junto à zona tampão controlada pelas Nações Unidas. É ali que os cipriotas-turcos passam muitas horas dos seus fins-de-semana, a comer pevides e amendoins e a olhar para o lado ocidental. Olham mas não atravessam a rede de cerca de dois metros de altura, limitando-se, de tempos a tempos, a fazer uma ou outra provocação, que pode passar por simples insultos ou pelo arremessar de pedras. Os cipriotas-gregos respondem-lhes na mesma moeda, e quase todos os automóveis e motas exibem orgulhosamente a bandeira da RC. Quase todas as famílias têm membros repartidos pelas duas partes da ilha, mas os contactos entre as duas comunidades são praticamente inexistentes.
O futebol é um dos maiores motivos de rivalidade entre as duas comunidades. A maior parte dos clubes têm nomes gregos ou turcos e os campeonatos destes dois países são seguidos com fanatismo nos dois lados da ilha.
Apesar de ser uma cidade dividida, Nicósia tem muitos motivos de interesse para os turistas. A começar pelas magnifícas igrejas ortodoxas do lado grego, algumas delas paredes-meias com a “linha verde” que separa as duas comunidades. O Museu Municipal de Leventis traça o desenvolvimento da cidade desde tempos pré-históricos. Mesmo ao lado fica o Dragoman Hadzigeorgakis, a casa de Cultura por excelência de Nicósia. Nenhuma vista à capital cipriota fica completa sem uma passagem pelo Museu Bizantino.
As esplanadas são “um must” no lado grego, em grande parte devido ao clima temperado durante todo o ano. Todavia, no Verão, a temperatura pode subir facilmente aos 40 graus, provocando uma debandada geral para as praias de Limassol ou Pafos. Convém saber, no entanto, que o turismo de massas está aos poucos a desfigurar o lado sul da ilha, havendo resorts e apartamentos a serem erguidos por todo o lado. No lado turco as coisas estão mais bem conservados devido ao isolamento a que a comunidade internacional votou a autoproclamada República Turca do Norte do Chipre.

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Uma ilha partida ao meio


Nicósia é, como Berlim foi outrora, uma cidade dividida. Mas a capital de Chipre não tem um muro tão demarcado como a capital alemã tinha. O aspecto das ruas de Nicósia (Lefkosa, em turco) não deixa adivinhar imediatamente que esta cidade está partida a meio. Uma parte é controlada pela comunidade cipriota grega — República do Chipre (RC), cujo Governo é reconhecido pela comunidade internacional como o único de toda a ilha; a outra é controlada pela comunidade cipriota turca — República Turca do Norte do Chipre (RTNC), que não é reconhecida por ninguém excepto pela Turquia.
Mas há zonas de Nicósia em que a separação entre cipriotas turcos e gregos é óbvia. Pelo meio da cidade (que serve de capital tanto à República do Chipre como à RTNC) passa uma “linha verde” de 180 quilómetros quadrados, que atravessa a ilha a meio e é patrulhada por 1200 soldados da ONU.
O quartel-general da força das Nações Unidas é um hotel abandonado no meio da “terra de ninguém” em Nicósia. Antes da divisão da ilha, em 1974, este era o hotel mais luxuoso de Chipre; hoje, está em ruínas. Nas varandas dos seus quartos estão pendurados estendais com a roupa lavada dos capacetes azuis.
Este é o “monumento” mais marcante da “linha verde”; no resto de Nicósia, ela está mais disfarçada. Aparece de repente quando ao virar uma esquina se dá com um beco sem saída bloqueado por um “checkpoint” militar, um muro de tijolos, uma cerca de arame farpado ou pura e simplesmente um monte de escombros. É permitido aos turistas atravessar do lado cipriota grego para o lado cipriota turco, com um passe especial que só dura até ao pôr do sol. Atravessar no sentido contrário é proíbido.
Quem está do lado cipriota turco vê de perto os cipriotas gregos: às vezes, a “linha verde” não tem mais de três ou quatro metros de largura. Os cipriotas gregos gostam de provocar o outro lado do muro: são bem visíveis bandeiras da República de Chipre ou da Grécia, viradas para o lado turco.
Os cipriotas turcos, claro, fazem a mesma coisa. Há por todo o lado bandeiras da RTNC e da Turquia. Aliás, eles gabam-se de ter “a maior bandeira do mundo”, pintada na face de uma montanha, ostensivamente voltada para o lado Sul da ilha. É nessa montanha que fica a “floresta Ataturk”, meia dúzia de árvores com um aspecto desolado.
Há muitas coisas chamadas Ataturk na RTNC. Ataturk é um indivíduo que ficou conhecido nas décadas de 20 e 30 pelos seus fatos elegantes e por ter fundado a Turquia moderna. É também ele que aparece em todas as notas — a RTNC não tem moeda própria, e usa a lira turca. A moeda é a face mais visível da influência da Turquia, mas não a única.



posted by Rui Baptista at 3:29:00 da manhã 0 comments

Chipre

Decidi começar pelo Chipre, em grande parte porque esta ilha mediterrânica permanece dividida entre o lado grego e o lado turco. O referendo realizado no sábado falhou, e por isso é um Chipre partido ao meio aquele que vai aderir à União Europeia no dia 1. Os textos que se seguem foram escritos a quatro mãos, por mim e pelo Pedro Ribeiro, correspondente do PÚBLICO em Nova Iorque. Ele andou pelo lado turco, eu pelo lado grego, e ambos estivemos em Nicósia, a última capital dividida do mundo.

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As coisas boas da vida

Este novo blog é sobre as coisas boas da vida. Sobretudo viagens, mas também restaurantes, charutos, livros, música e outros pequenos-grandes prazeres que tornam suportável a rotina quotidiana.
Todas as semanas conto colocar aqui o relato mais ou menos desenvolvido das minhas incursões pelo mundo. Alguns textos já foram publicados, outros são inéditos. Colocá-los neste blog é uma maneira de prolongar a sua vida. Espero que sejam úteis a quem, como eu, sente o impulso de partir. Sempre.
posted by Rui Baptista at 3:11:00 da manhã 0 comments